Postagens

Mostrando postagens de 2014

pra sempre clandestino

Q uase como uma menstruação inesperada, vem como um aborto repentino, cretino aborto espontâneo, forçado. Vem como um aborto que meu corpo joga pra fora, repugna e cospe.  Eu vomito, expulso alguns restos, retiro, não sei mais se é uma fuga, eu estava apenas correndo desde então, sempre pra bem longe, bem longe... e de longe mistérios, segredos, solidão daqueles planos invalidados, as nuvens do céu trazem meu próprio fantasma a despertar nos meus braços, óh minha menina que sangrava, óh minha menina confusa, óh minha menina bruta e condenada a dormir para sempre... tento  lembrá-la em meus braços em que tempo estamos, quantas horas se passaram desde lá, e como não tem mais razão para sentir tanto. Que triste, que triste, que triste eu sei melhor do que ninguém. Foi um tempo que passou devagar, arrastado, queimando toda a nossa pele,  foi um tempo em que o destino nos rasgou em mil verdades e mentiras que perfuraram meu corpo de uma vez, não me confunda com nosso medo, você me deixa as

Meu refrigerante acabou.

A medida que fui percebendo que meu trabalho final ia terminando, um vazio imenso veio se aproximando de mim paralelamente a alegria missionária de estar concluindo os anos naquele lugar. Não podia preenchê-lo. O pior de tudo é que esse vazio eu realmente não podia preenchê-lo. Era um colonizador, arrogante e dominador desses incontroláveis da certeza de que talvez nunca mais me encontrarei com todas essas pessoas incríveis que conheci. Tem beleza peculiar, elas são lindas, diferentes e tão, ao mesmo tempo, iguais a mim, reunidas no mesmo local, com experiências parecidas, se conhecendo e tentando nos conhecer nas frustrações semelhantes, discussões e risadas confortáveis, pessoas com olhos de esperança, que entram no bloco, pintam o bloco, fotografam o bloco, dormem no bloco e também que vão pra trás do bloco sem medo de jogar conversa fora e liberdade pra dentro da cabeça. Eu queria que esse vazio fosse realmente embora mas não dá... é preciso aceitar o fim das coisas, para o clich
Uma conta minha nesse tempo, é um encontro comigo mesma. Cheguei, quase lá...dessa vez, não tem mais nada a ver com instruções ou elogios, dessa vez não tem nada a ver com aquilo. Mais alguns passos, mais alguns passos e estarei vencendo esses tenebrosos limites, essa corrida do destino que acompanhado com alguém eu jurei de pé junto não acreditar, eu já falei e repito, é sozinha mesmo. E é pecado julgarem que sozinha é mais fácil. Destino, espelho, meu... se eu o estiver escrevendo, mil, uns mil fantasmas serão capazes de me assobiar. "Por ali", "Por aqui", me guiam ferozes, no prazer e na dor... "Com eles", "Sem eles", seleciona aprendizagens... "Não agora", "Agora mesmo", me dão ordens, me devoram... Um encontro comigo mesma...quase lá, e se quando eu chegar eu descobrir que não sou mais eu a dona da caneta?

PRIVATIZARAM até as manifestações de junho

Não me mande acordar, eu sou feita de sonhos. A quanto tempo você sabe o que te incomoda de verdade e o que é despertar?! Era junho sim meu filho, e tudo começou em São Paulo, com a desorganização e violência do governo de São Paulo. O brasil inteiro saiu as ruas e gritavam SEM PARTIDO, justamente pra não parecer que a culpa fosse de uma pessoa só. Governadores temeram o povo nas ruas, Prefeitos também, Deputados retiraram votos em pec's vergonhosas na maior cara de pau por m edo do povo! E ocupações e movimentos foram encorajados a serem organizados em algumas cidades...uma coragem floresceu e é claro que a DIREITA COVARDE se apossou da ignorância da classe que nunca se interessou por política e muito menos esteve em protesto ou lutou por uma causa, disseminando como proposta principal a retirada de um partido, disseminando o ódio a um partido, escondendo seus podres, como se fossem limpos, não falando de suas propostas e iniciativas e retirando seu PASSADO da reta, para atravé

Vou persegui-los e 1988 nunca mais será o mesmo.

Do plano, acordei querendo viver. Na terra, outra vez... já pressentia o cheiro de uma grande aventura. Como seria meus pés estarem no chão, na terra outra vez... Prometi a mim mesma que só aceitaria perdoá-los e amá-los, se possível fosse reencontra-lá, se pudesse ser tudo de novo, de novo com ela. Todo seu amor outra vez, seu amor de entranhas, seu amor quente e infinito. Eu renuncio! Grito e negocio nas gambiarras mais celestiais que os nossos sangues circulem por favor e pela última vez, juntos. Juntas, uma dentro da outra como uma única vida, como era o sentimento de todas aquelas vidas, como num contrato de despedida de que essa saudade toda acabe e transcenda de uma vez por todas. Os anjos sorriram, os anjos acabam sempre sorrindo no final de todo esse melodrama. Sorriem de todos que estão desesperados de amor, saudade, missão...de todos que já sabem que é apenas com a liberdade que se supera a dor e se entrega de uma vez por todas ao verdadeiro e infinito amor. E da im

Quando visitei sua casa pela primeira vez...

Eu gosto de sujeira, ela sorriu meio tímida e pensativa, como se tivesse chegado aquela conclusão naquele exato momento, ou como se quisesse me ver impressionada, ao responder, naquela cachoeira, sobre eu ter lhe chamado atenção sobre como ela andava abraçada com o desleixo esses dias.                                    Lembro-me de quando visitei sua casa pela primeira vez na vida e me deparei com tanta sujeira que de súbito imaginei a minha mãe constrangida diante daquele lugar, gritando como louca extremamente perturbada e falando alguma coisa sobre como a bagunça representa muito das pessoas. Fulana é porca, já percebeu?! Cruzes!                    Depois de algum tempo, meu costume passou a ser o de me adaptar com aquela sensação de chegar à tua casa. Em um dia de chuva eu poderia descobrir que ela teria goteiras, em outros que dava sono, colchões sempre pela sala, outras vezes que eu podia encontrar comida, pessoas, gargalhadas...mas a única certeza que poderia vir comigo no

Eles venceram, idiotas somos nós.

U m entra e sai danado, você todo animado. Casa cheia, casa vazia, “tudo vermelho na rua!”, você dizia. Eu fazia meus desenhos sem saber de fato o que tanto acontecia, minha irmã sempre atenta a teus passos, brigando na escola, com fitas nos pulsos, bonés, risadas. “Pega essa estrela pra ti, colabora!”.  A cidade dividida entre o azul e o vermelho, entre a direita e a esquerda, entre o homem de barba e a mulher carismática. De um lado diziam: “Um véi desse, um véi desse maconheiro!”, do outro confirmavam: “Uma puta falsa dessa! Ela abraça e beija os pobres e se lava com nojo depois! Eu disse SE LAVA COM NOJO depois que eu conheço!”. O portão não parava de abrir e fechar, eu já sabia pela cara da mamãe que a casa só seria casa depois que aquela doce loucura fosse embora. Nossa casa era uma casa agora, muito engraçada, era uma casa só de brincadeirinha.  Eu, magrelinha, no coração dos recreios, onde poucas pessoas eram estrelinhas, na saída vi uma muvuca na frente da escola. Eram

Beijos vermelhos carregados pelas brisas.

O grande político iria dar um parecer, eu era uma atriz. As pessoas que eu conheço não sei se eram quem são, não sei se eram inclusive quem são hoje. Precisamos mostrar toda a dor desse astral, precisamos sofrer como se fosse vida real... E agonizar a platéia, certo? Um perguntava, e eu balançava a cabeça com a companhia num sim. Éramos um bando de malucos, quase parnasianos, não sei como sobrevivíamos, não sei como sobrevoávamos, sei que nossos jantares eram de pura poesia e nosso entardecer maresia. Não tínhamos família, não éramos ciganos, não tínhamos mais terra natal, lavávamos sapatilhas, tínhamos cuidado com a maquiagem, carregávamos apenas o útil e me lembro bem de muitos beijos cênicos, muita tinta azul, muitos beijos vermelhos carregados pelas brisas. Éramos um bando de soldados da arte sem general, compartilhávamos de uma harmonia a qual não sofríamos nunca por amor e éramos extremamente românticos.  Por algum motivo eu me retirava do ensaio, era realmente um grande teatr

Estando com elas em maioria.

A lgum tempo atrás que até hoje não parecia ser tão-tão distante, éramos três colegas de curso, agora as duas estão casadas. Hoje nos saímos pra comer alguma coisa, hoje saímos pra eu compreender que não temos mais nada em comum e que estamos terrivelmente desligadas pra todo o sempre. Talvez, a única coisa que nos una seja a saudade, algumas lembranças inesquecíveis de amizade verdadeira e quem sabe uma pequena manifestação pra que continuemos acreditando que tudo pode ser igual. Elas estão consideravelmente felizes, eu também estou, aliás acho que essa é a melhor fase da minha vida. Suas bocas se mexiam sem parar, pareciam cansadas, falavam o tempo inteiro com preocupação do amanhã, enquanto eu escutava o que o cantor no andar de cima cantava e sentia alguns picos de pequeninas emoções no peito com os trechos da música, como uma adolescente descobrindo que alguém sente o que sinto, mas disfarçando  bem e balançando a cabeça num "sei como é" de não compreender e nem me inte

Instante

Imagem
Q uase sua boneca de porcelana, quase arrumada na estante, quase bagunçada, quase recolocada, quase caindo de novo...ah, meu senhor... meu senhor! Brinque comigo direito por favor, eu não me incomodo, porém me deixa, me solta, me larga caída no chão pelo amor de deus... me deixa cair e me despedaçar pelo chão, porque eu sou movida a quedas, eu sou movida a destruição. As coisas estão muito mantidas no lugar, isso não funciona comigo, eu gosto das coisas claras na escuridão... eu não consigo ficar vestida assim por muito tempo, você não percebe que os ventos querem que eu saia do lugar? Não percebe que eu não caibo aqui, que essas meias sufocam minhas pernas, que elas querem se abrir a todo momento, e que esse chapéu prende meus cabelos que querem sentir o vento? As outras bonecas meu senhor, as outras bonecas sentem tanto a tua falta, e elas querem mais espaço, elas também querem brincar, essa estante não me cabe, eu prometo não ir muito longe...eu só acho que estou pequena demais pra

soprar a cidade

Vai mudando de corpo, vai mudando de cor, vou fazendo aniversários, e não me engana não, esta espécie de diabo estará sempre me acompanhando. Ele gosta de mim, ou eu gosto dele. Se eu me entrego e admito que estou acompanhada, não acontece nada além de ficar parada numa praia fria. Se eu me escondo, eu corro, eu corro, eu fujo, mas as pessoas veem, de alguma forma vai aparecendo, sai pelos meus buracos, sai pelos orifícios, cai o meu cabelo e aparece minha cabeça, minha cabeça, meu olhar, nas denúncias das frases, e minhas fugas ficam cada vez mais explícitas e as indiretas exalam o cheiro e incomodam o humor desesperado pra que não vejam, pra que não vejam por favor! Por favor não vejam que eu abraço, coloco na mala e observo num vidro o meu grande fracasso.  Eu achei, as vezes que era capaz de estar aprendendo a  lidar, mas os barcos chegam, os barcos, as gaivotas, e as conchas desse oceano...e trazem pra mim as milhões de agonias com brilhos de dúvidas e argumentos listrados me p

despedaçando

Dá licença que eu tenho medo.  Eu quero no instante mesmo, não quero esperar, mas quero planejar.  Eu quero dormir, mas pra acordar. Preciso construir, construir, construir.  Só pra eu saber que não é simples, que não é sem graça, que o mundo é grande, que destino a gente muda, a vida é mudar, é trocar, e se indignar...e se indignar é universo!  Tem paz,  não tem paz,  tem paz,  não tem paz... haverá guerra amigo!  Muitos vão morrer, eu posso escutar as manchetes que ainda nem saíram na TV passam letras do jornal pelos meus olhos, posso escutar o barulho das rosas na madeira do caixão, e elas vão se despedaçando...como minha licença, com medo, no instante mesmo em que eu não posso esperar. 

O desfile na cozinha, daquelas garotas oferecidas.

Imagem
"Dá licença. Eu to conversando." Parecia estar sempre se jogando.  Conversava tardes inteiras com eles, e quando os via ficava triscando, insinuando, triscando, querendo dizer aquilo, brincando, escondendo, triscando, como um teste, como uma manhosa.  Depois eu me mudei. Talvez você iria se mudar também, e eu  poderia te dizer coisas que eu já havia vivido, mas eu incrivelmente não me sentia a vontade pra compartilhar sobre esse ritmo, nem dizer o que viria depois. Você também haveria de ter vividos coisas que me ajudariam a sair do casulo, mas eu não perguntava. Algumas vezes, eu me lembrava do desfile na cozinha, um que você fez. O desfile na minha lembrança não era de muros enormes, dos caminhos que seguimos construídos por nossas diferenças e puberdade cruel e confusa. Eram engraçados de serem lembrados. Longe de casa, parecia as vezes sentir minha falta pela internet, mas toda vez que eu chegava de viagem, você nem me abraçava. Éramos duas desconhecidas.  Algum

eles levaram.

Eu levava uma pancada na cabeça e adormecia. Quando eu acordava, sabia que haviam levado minha carteira e meu celular, eu sabia, eu sabia. Eu levava uma pancada na cabeça e adormecia, mas eu tenho quase certeza de que eu estava em uma delegacia, era isso mesmo. Uma delegacia que parecia um galpão de uma grande construção, pois havia areia, ferro, e todas aquelas parafernálias de que aquilo tudo se tratava de uma construção.  Eu estava de jaqueta preta, não fazia calor. Tinha descido pra perguntar alguma coisa, estava feliz, parecia que havia feito uma viagem com pessoas que eu amava muito e tinha aquela sensação de que essas mesmas pessoas que gostavam muito de mim estavam esperando eu voltar, porém eu levava uma pancada na cabeça, e angustiada adormecia sem que eu quisesse, e triste pensava em como aquelas pessoas estariam me esperando. Adormeci na marra e quase no chão, com medo de não voltar.  Quando eu acordei, eu tentava avisar para alguns homens que ali passavam, mas eles nã