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quarta-feira, 4 de junho de 2014

Instante

Quase sua boneca de porcelana, quase arrumada na estante, quase bagunçada, quase recolocada, quase caindo de novo...ah, meu senhor... meu senhor! Brinque comigo direito por favor, eu não me incomodo, porém me deixa, me solta, me larga caída no chão pelo amor de deus... me deixa cair e me despedaçar pelo chão, porque eu sou movida a quedas, eu sou movida a destruição. As coisas estão muito mantidas no lugar, isso não funciona comigo, eu gosto das coisas claras na escuridão... eu não consigo ficar vestida assim por muito tempo, você não percebe que os ventos querem que eu saia do lugar? Não percebe que eu não caibo aqui, que essas meias sufocam minhas pernas, que elas querem se abrir a todo momento, e que esse chapéu prende meus cabelos que querem sentir o vento? As outras bonecas meu senhor, as outras bonecas sentem tanto a tua falta, e elas querem mais espaço, elas também querem brincar, essa estante não me cabe, eu prometo não ir muito longe...eu só acho que estou pequena demais pra esse lugar. 
Eu escuto o chão me chamar, meu senhor. Você já escutou o seu destino? Ele atormenta e atiça de uma forma gostosa... tão gostosa que nem parece que nascemos pra morrer. Estou sedenta meu senhor, sedenta por estar em pedaços com meu destino...por gentileza, não é justo, não é com você, -Brincar de novo? Claro que vamos brincar, eu quero brincar pra sempre! Mas não aqui, meu senhor, confie em mim, eu sei que posso diverti-lo, eu sei que posso fazê-lo sorrir, existe alguma maneira que o faça se abrir pra mim, que o faça falar o que eu preciso fazer pra não estar mantida? Me tire da estante, por todos os instantes meu senhor! Ela suga minhas poucas vontades de estar viva, por todos os segundos, ela vai empoeirar logo-logo. Me tire da estante porque eu quero e preciso quebrar.

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