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quarta-feira, 6 de março de 2013

Antes de me ensinar a passar Batom direito.

Elisa, minha "linda" mãe (:


No lançamento do livro (sábado passado) o poeta Osmar Casa Grande elogiou meus pais, papai como poeta, figura pública e também escritor, (um enorme e grande exemplo!) e mamãe como linda.

Fiquei feliz, porém dentro do meu estômago surgiu uma enorme revolução. É que o poeta talvez não saiba como é difícil ser apenas linda, é que o poeta talvez não saiba o perigo de um bicho que sangra todo mês e não morre...

Mamãe realmente é linda, mas por favor! Que nesse linda também esteja incluso todo o exemplo, garra e força do homem e sua grande sabedoria. Pois caso contrário, Simone de Beauvoir já deve estar se revirando no caixão!  
“não se nasce mulher, torna-se”

Mamãe é do tipo de mulher que teve a sorte de encontrar o amor da sua vida, casou-se, tem 4 filhos, sendo duas dessa leva, já escritoras! Uma de prosa outra de poesia, é também esposa há 22 anos de um poeta, advogado e professor conhecido na cidade. É professora desde a adolescência, hoje em dia dá aula na Universidade Federal, também é mestre, faz doutorado, e é sempre lembrada por aí por aparentar ser mais jovem do que sua idade diz e por ser altamente divertida, ter uma risada gostosa, fazer piadas rápidas e ser um tanto temperamental de vez em quando...

De mulher pra mulher, foi ela que me deu meu primeiro diário, onde tive o prazer de descobrir que escrever era o meu maior hobby. Também era ela que mais se interessava por minhas historinhas de canetinha em papel A4, que perguntava sobre os detalhes dos desenhos e significados, que corrigia os erros de português, elogiava, criticava e sempre queria mostrar pra todo mundo que chegasse lá em casa, o quanto sua filha era criativa. 

Mamãe é uma dessas mulheres que trabalha muito, a maioria das vezes nunca tinha um tostão na carteira, mas estava sempre ensinando que trabalhar servia pra ganhar dinheiro, que mulher deveria ser bonita, mas antes disso independente! E nos deixava aos cuidados de outras mulheres que também precisavam desse tal de dinheiro, mas não sei como... mamãe sempre tinha tempo de nos contar histórias!

E antes que minha irmã e eu dormíssemos, aquela mulher nos contava sobre mulheres rainhas, princesas, mulheres encantadas, mulheres borralheiras, mulheres feiticeiras e enfeitiçadas. Depois ela começou a contar sobre as mulheres guerrilheiras, mulheres que construíram impérios outrora que os destruíram, mulheres que queimaram sutiã em praça pública e também mulheres que foram queimadas numa fábrica porque alguém não queria lhes dar alguns direitos, outrora contava sobre uma que acabou com uma banda de rock famosa e até sobre uma bem charmosa que conquistou o presidente dos Estados Unidos! Contou sobre mulheres brancas do cinema, mulheres negras da música, cantoras, musas, divas de clube de Jazz, Blues, e também cabarés ou simplesmente sobre mulheres que costuraram até criar um estilo e marca eternos.

Mamãe contou e demonstrou que éramos meninas, que éramos pequenas, num mundo nada cor de rosa, mas que deveríamos querer sempre mais e se sobressair, algumas vezes desobedecer, e ter acima de tudo conteúdo! Porque só dessa forma poderíamos ter algum tipo de poder.

E foi só depois de todas essas histórias, que mamãe nos ensinou a passar nosso primeiro batom sem borrar, porque bonitas ou feias, inteligentes ou despreocupadas, de verdade ou de mentira, a beleza ainda seria nossa maior aliada e quem sabe nossa maior inimiga.

Que nada nos defina. Que nada nos sujeite. Que a liberdade seja nossa própria substância.”
Simone de Beauvoir

3 comentários:

blog do gallo disse...

É tudo isso e MAAIS!!!

Nane Dias disse...

Fui aluna da sua mãe e confirmo essa imagem de mulher bonita, competente e especial que você passa no texto.
Elisa é espetacular mesmo. Bonita por dentro e por fora.

Nane Dias disse...

Fui aluna da sua mãe e confirmo essa imagem de mulher bonita, competente e especial que você passa no texto.
Elisa é espetacular mesmo. Bonita por dentro e por fora.