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quarta-feira, 6 de julho de 2011

Eu era a bela da fera e não mais a adormecida


Apesar de cansativas, em algumas brigas que ando lembrando e até sorrindo sozinha no ônibus elas também eram excitantes. Mesmo exausta, o desgaste aos poucos mostrava que não era só eu que ficava fora do sério, e antes de eu alisar minhas sobrancelhas com os dedos tensos, que avisava de certo modo, que em 15 segundos aquele carro ia explodir do meu lado, eu dava uma olhada em você por inteiro e via suas pernas a balançar, e era ali que eu te via como um homem que tem dúvidas, ressentimentos, nervos, inteligência, paciência, indagação, caráter e força, muita força interior. Porque diante dos meus olhos, você virava um enorme e forte dragão. O que era bem mais atraente que aquele semblante irritante de príncipe  narciso , perfeito e encantado. E você me respeitava, apesar de louco por confiar nos limites que nem eu conhecia, e fechava a porta antes que eu corresse, e escondia minhas chaves, escondia minha bolsa, escondia meu celular, escondia meus livros, desligava meu computador, escondia a roupa, o sapato, a tranquilha! Para me fazer conversar. Impedia que eu corresse pra me acalmar, de tal forma que depois aquilo até deu medo.  Por acaso você também queria conhecer um (meu) outro jeito?
Mas era ali! Bem ali! (como digo) que a gente se enfrentava sem pequenas porções de ilusão, sem devaneios ou “felizes pra sempre”, e ali que o negócio era real pra mim. Isso de longe queira dizer que eu adoro uma briga, mas tenho que admitir que elas é que mais me fizeram crescer e te/me entender.  Eu te pertencia demais nelas, eu era a bela da fera e não mais a adormecida. E eu jurava , sabe? Quando eu nem pensava em me envolver com alguém pra valer, que eu seria bem decente nos confrontos que haveriam de acontecer e que assim tudo iria ser belezinha. E pelo contrário! Acho que até agradeço, porque foram pelos mil demônios despertados que eu pude chegar o mais perto possível de me auto compreender e de me envolver intensamente também, como eu desejava quando assistia solteira, meus filmes sozinha, sem ideia do que viria a acontecer na minha pacata vidinha. É por isso que eu gosto da realidade, ela nos impressiona a sangue quente e pés no chão, nos direciona sem muita vela e talvez foi pelo pouco dela que esse relacionamento não se abasteceu o suficiente, pois foi naquela briga (nª duzentos e oitenta sete) que você se mostrou como nunca. Falou até suas salivas saírem pra fora, fez dancinha e provocação, praguejou e gritou! E tudo em mim era triste porém também era festa! Pois ali estava o homem que se deixava provocar, o que eu ainda não conhecia bem, o que sentia coisas ruins também, que tinha medo, ciúmes, dúvida, horror, impaciência, e chegava a beirar a loucura  também! Afinal, por que não?! Um homem de verdade, simples e imperfeito, e pela madrugada! seu gostoso ainda assim no jeito.
Ai você disse no outro dia, diretamente nos meus olhos: “Eu pensei que você fosse perfeita, por isso aguentei tudo.”  E deu vontade de chorar e tampar os ouvidos, mas meu coração dizia "Deixa, deixa." pois pelo menos eu consegui arrancar logo isso, isso dos seus carinhosos lábios. Foi meio frustrante, confesso, não é  muito legal saber que talvez tenha se apaixonado por uma projeção, mas no meu peito estava resolvido um pouco mais da metade de todos os males consagrados. Porque eu tentei te mostrar o tempo todo o que eu era, mas você só me falava de doces e me vestia de fada. E eu insistia, nos beijos secos, molhados, demorados, nos comentários que te traziam sorrisos e desagrados, nas caças conversas só pra implicar, nos furtos de objetos que nem usava mas enciumava, nos papéis ridículos que eu me prestava a fazer quando sentia pouco, meramente (e muuuuuito!) ciúmes... e principalmente no choro descontrolado,  que no começo eu evitava mostrar, mas depois vi que era muita bobagem fazer o perfil da boneca oca. Porque eu não era isso! Eu era o algumas vezes, o  meio, o exagerada, e era só assim, assim, e assado. Não era perfeita  como você me contou, e não precisavas aguentar tudo por tal motivo, está errado, ah...como houveram enganos...
"Ama nada!", uma vez eu disse nessa suspeita de projeção, e depois insisti  na brincadeira desconsolada... e infelizmente não houve desenvolvimento quando nos vimos nus, ou melhor, com a roupa do rei.
Sim, eu julgava, eu amava, eu era grossa,  eu amava, eu não escutava, eu amava, eu criava, eu amava,  eu descontava, eu amava, eu  provocava, eu amava, eu negava, e eu amava. E ainda bem que eu consegui mostrar isso (não do tanto que nos faria bem mais felizes) E é difícil, vai por mim, porque quando eu te pedi os teus segredos, como Dalila a Sansão, minha reação foi de cortar teus cabelos imediatamente, mas foi com a tesoura na mão que eu percebi de antemão que talvez cortar apenas aquela perfeição que pairava em cima de você, fosse suficiente. E foi bem ai, que eu já te tinha de verdade, e eu disse: "Sua", me arrepiando toda por tamanha entrega. É por isso que em dias e afins eu vinha tanto pedindo desculpas, tentado te olhar mais nos olhos, mais frágil por minhas tristezas e desagrados do mundo, afetarem tanto aquela beleza construída...isso era um pouco de... tentar aos poucos! (seguindo sua dica de "tão pouquinho pra me fazer feliz pretinha"). Te curar de tudo que eu fiz apenas por pensar na projeção, era um longo caminho.
E olha...eu aceito seu cansaço, ninguém é perfeito pra querer continuar, e só cabe mais em mim se couber em você.   

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