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quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

O Caso peludo de Acácia

             Não concordava com a ideia de que estivessem lá apenas pra se expressar. E que ainda por cima fossem duas! Mas concordava que se expressavam bem, e concordava que se  tivesse apenas uma sobrancelha, ia ser esquisito. Desde então, deixou a mania de julgá-las em paz. E a menina Acácia cresceu bonita como a árvore do seu nome.
              A noite, a jovem saia com o objetivo de sorrir. Percebeu que esse  era um caminho fácil de estar dentro dos olhos masculinos . Seu coração era sempre cor de rosa, alegre e divertido e seus olhos bem treinados (nem muito profundos, nem muito distantes) davam a forma de nunca se dar mal, e sempre funcionava. Desviá-los requeria um cuidado maior, por incrível que pareça , fica fácil destinguir inquilinos do instinto estranho de gostar de desprezo . E sinceramente? Não  era nada bom apreciar ou abusar dessas espécies raras.  
             Das condições de Acácia,  uma delas era preservar as mãos (e as alheias) . Não que fossem maliciosas, era só que mãos sempre lhe pareceram frágeis, tendenciosas e do tipo que se dedicavam rápido. Se possível nem usá-las muito  se recomendava. No máximo, que fossem encontradas pelas danças e quem sabe se o beijo fosse agradável, usá-las na nuca. Caso contrário, primeira porta a direita. 
           E era assim: Com sorrisos, sem apostas, sem muitas informações, sem promessas longas e das mentiras, apenas as brancas. Á vontade mesmo, Acácia estava na música, que entrava pelos ouvidos sacudindo o corpo num movimento que transparecia tanta peculiaridade, que a moça chegava a ser vista como a árvore bonita que vivia em seu nome. Por conta disso, se começasse o molejo logo atraia companhias, convites, respostas curtas, alguns suspeitos, longas olhadas sem futuro...até que... ela estragava tudo e se flagrava naquela mania de olhar as sobrancelhas de quem vinha conversar.
         "Mania besta, mania besta!", ela declarava para si mesmo tornando o possível diálogo num monólogo distinto. Finas, longas, grossas, cruzadas, falhadas, bagunçadas, ruivas, trabalhadas... Acácia não conseguia evitar. A jovem nunca entendeu porque aquele montinho de pêlo em cima dos seus olhos, e no dos outros, desde pequena lhe pertubava. "Para que serve?", perguntava pra mãe se olhando no espelho. "Para se expressar Acácia, para se expressar!", a mãe respondia preocupada com as curiosidades sem nexo da filha.  "Mas só pra se expressar mãe?", e a mãe  se remoia levantando apenas uma das sobrancelhas fazendo-a calar. 
          Besta ou não, era mania, era sobrancelha, era Acácia.  Talvez, o que Acácia não podia entender era o fato de existir algo (no caso, com pêlos) sem função, mas dotado de expressão. E mal sabia ela, que desse mal muitos já sofreram... entretanto, com menos pêlos.

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