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O  teu nome, a s cores, o corte,  altura e a acidez...  a capacidade de admitir, era bonito o suficiente. Já não estava mais fantasiando sozinha. Alguém estava realmente me olhando, mesmo que tudo que eu pudesse, desde o início e por fim, era apenas querer.  Não posso escrever sobre o que nunca existiu.  Não posso escrever sobre o que passou pela minha cabeça diversas vezes.  Não posso escrever sobre besteiras que me aceleraram por dentro.  Nem para onde eu olhava, para onde eu queria olhar. Os caminhos que eu fazia para os pequenos planos do dia, para as pequenas atenções na noite. Não posso escrever sobre aquelas portas de vidro. Sobre os chinelos de quem não vivia mais entre nós. O que é que eu via e a forma com que os dias começaram a se passar. O churrasco, o barulho das pedras. Não posso lembrar de gestos para que eu me sentasse, bem no início, bem ali do lado... e se eu tivesse sentado? Eu não posso escrever sobre o que alguns, ninguém, e todo mundo, viu. Era só aquela música q

o paraíso me pertence

Desapaixonei. Agora sim. Agora eu posso respirar. Agora eu posso recomeçar da onde eu havia parado. Agora eu posso seguir em frente de verdade. Sinto o cheiro do campo, escuto a música novamente, estou livre, ah... estou livre outra vez, nada mais pode me impedir de ser feliz. Minha existência é real, é rio, é grande. Meu mundo nunca mais cairá dessa maneira. Eu estou poderosa de novo, eu me transformo em um gato, eu me transformo em mulher, eu pulo, eu caio de quatro. Eu não posso mais morrer. Cada salto que eu dou são quilômetros de distância que me carregam sem quem eu possa medir a dimensão, sempre para a frente. Bem a frente do que eu possa enxergar. É excitante quando saio da terra, quando tento fazer giros no ar, quando percebo que é bem mais forte do que eu. Eu estou sendo carregada por uma força descomunal. Para frente. A coragem me abraça e me segura. Eu gostaria muito que isso tivesse um nome. Quando eu durmo, meus dentes não estão mais caindo nos meus sonhos. Estou realmen

Estrelas que não precisavam de céu

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Não sei como funciona, todavia, ainda me excita as mais de não sei quantas cenas que não construí sozinha. As vezes me pergunto como seria entrar naquela casa e vê-la com outros móveis, com outras pessoas, com outros fantasmas. Nem parece que foi nessa vida. Nem parece que eu ainda existo. Nenhum pedaço meu está perdido de fato. Nenhum pedaço meu está no passado. E não me sinto triste com isso. Nada de anormal. Eu sempre quis um fim. Meu começo, minha saga. Ainda cheguei a querer acreditar que sentia mesmo. Mas ninguém trai a si mesmo. Tudo grita mais alto quando não se pertence de fato a alguma situação. E não posso mentir, que isso me dava um tesão cabuloso. Era o que mais me excitava desde sempre. Por favor não pare, continue, eu dizia depois de um palavrão que nem existia no meu vocabulário. Quem sou eu? Não sinto coesão em pedir desculpas pela verdade. Mas seria exagero não ter medo se ser estranha. Eu era uma mulher. Uma egoísta. Eu adorava ser tão ingênua e isso não matar uma v

às vezes decido ser armadilha

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Tem um homem me observando por todos os lugares. Onisciente. Todos os lugares. Um homem na minha cabeça. Um homem no que eu deixei de dizer. Atrás das árvores, dentro do carro, das casas, sentado nos bares. Há um homem no céu me olhando, no trono me ordenando, na lua descobrindo o que eu não poderei ver. Existe um homem dentro do tanque, enquanto lavo minhas calcinhas. Um homem que respira dentro da água, que cabe num espaço minúsculo. Homens por todas as partes. Eu ando, ando, sem correr. Eles acendem as luzes para mim. Piscam o pisca alerta de acordo com os meus passos. Querem alguma coisa. Eu não sei o que eu quero. Amar é muito forte e o mundo dos fracos. às vezes decido ser armadilha, outras vezes subo lá em cima do muro e os espero com uma vara de pescar. Quando você esquece, quando você é apenas ser humano, alma perturbada, lá vem elas com seus cafés, fazendo questão de te lembrar que há um homem nos seus sonhos, dentro do seu quarto, observando se seus sapatos ainda estão sujo
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Já devia ter escrito sobre, mas me faltam palavras pra escrever sobre o que ainda sobrevive. Eu só posso, quando morto. Mortinho da silva. Abrir a porta do porão é arriscado, perigoso. Suspeitar é perigoso. Tem alguém aí? E então eu me afasto, dou mais passos para trás e tranco novamente. Te escondo. Estou infeliz. Mas depois me lembro que sempre fui um pouco. Está tudo anotado, desde sempre para que eu me lembre e não seja inédito. Para que eu ache a alegria anormal, a felicidade estúpida. Afinal de contas, a vida por si só é pessimista. Queria ter mudado meu roteiro, eu confesso. A decepção me abraçou com tanta força que estou sem ar em alguns dias da semana. Por algum momento achei que seria salva, mas não foi bem o que aconteceu. Eu ainda estou ali sobrevivendo. O calendário parou. As coisas estavam desmoronando, desmoronando... agora eu simplesmente estou flutuando perdida. Quanto inferno astral de uma só vez... e agora o mundo inteiro vai piscar e rezar como se nada tivesse acon

meus joelhos fortes, libertinos

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Tirem essa girafa maluca da minha frente, ela não gosta de me ver contente. Animal paranóico, cheio de neuras. Não se contenta, não se contenta. Quer me parar, quer ser meu amigo, não se decide, não sai da frente. Me escuta, me vê chorar, me pede que pare, me pinta inocente, gosta de mim inocente, bem inocente. É assim que me faço pra me proteger... ah, se eu pudesse te dizer tudo, tudo e mais pouco, seria um show de escárnio, um exagero. Um descarrego, o diabo montado na minha garupa, meu sangue fervendo e o fogo saindo de todos os meus orifícios. Aí todo mundo ia ver que eu não sou flor que se cheire, que minha alma tá cheia de buracos negros permanentes, que minha história é mais profunda e meu humor vem do fundo do poço mais frio. Que ótimo pensarem que nasci ontem, que não sangro, que não carrego pedras nos peitos, que sou fácil para destruir psicologicamente. Que ótimo pensarem que cheiro rosas, que sou frágil, menina, menina, ah, menina! Eu não estou cega seus cretinos! Nunca e

Um por um

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Eu devia ter feito um escândalo, chegado mais perto, gritado bem alto, olhado nos olhos, ter passado um medo, dizer que era agora, que continua sendo verdade, que não era coisa da minha cabeça, que eu sonho, suspiro, respiro, torço e imagino. Devia, sei lá, ter feito um barraco, caído no chão, ficado em silêncio, empurrado o corpo, puxado os pêlos, dizer que nunca mais, que até poderia não ser tudo verdade, mas que alguma coisa de diferente acontecia. Poderia ter dito quem sabe , que nem tudo era coisa da minha cabeça mesmo, porém admitido, afinal eu não minto, e ter reclamado... reclamado bem mais! Perguntado, por que não? Passado na frente, passado do lado, saído por de trás do balcão, do sofá, de um lugar escuro. Ter feito parte de um presente ainda que fosse pra não ser futuro. Eu podia não ter me escondido, nem ter fingido, e ter cumprimentado um por um, não me esquivando do você. O que é que eu fiz afinal? Abracei o medo, me entreguei para o medo e deitei vazia mais uma vez. N

Belzebú me dê aqui um abraço!

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O diabo vem comprando nossas almas, bem debaixo do nosso nariz.  Não venha me punir, todos somos cúmplices. Você está vendendo a música que eles querem,  e eu usando tudo que eu sei fazer para convencer números. Ele não precisa de algo que eu tenho,  eu é que preciso de algo que ele tem. No começo,  bem sabia que poderia ser estranho,  pode haver uma energia de injustiça no ar...  mas tudo é tão ideológico,  fantasia,  e quem é que queremos enganar,  se é desse mundo mesmo que fazemos parte? Descobri numa madrugada qualquer,  dessas que você pode estar numa festa,  dessas que você pode estar com insônia,  Amando, lembrando, dançando ou beijando um desconhecido,  nós...  nunca...  nós nunca fomos anjos!  Quando eu vi, já não suportava segunda feira. Quando dei por mim, clamava pela sexta. Se eu não fizer, alguém irá fazer. Minhas costas as vezes doem... Tem umas facas cravadas nelas Foram eles e elas As vezes sutilmente eles me odeiam

um poema pra tu

quando tu começa a ouvir Lirinha eu já começo a rir de nervosa desculpa, mas você é tão previsível tá tudo indo pras festas de novo belas, inesquecíveis, criativas, ah, se eu tivesse perto já tava dançando no seu balcão não tem mais a casa e os problemas os mesmos ah, seu eu tivesse perto já tava dançando no novo salão pra você brigar comigo pra te ajudar a ficar um pouco mais feliz lá vem o passo a passo que você sempre faz  mulher vê se não espiroca nem toma nada agora espera...  me espera que eu tomo com você... vergonha, tudo de novo vai fugir até quando? eu previa, eu te disse eu prevejo teimosa da gota  lá vai você de novo cometer essas cenas ouvir essas músicas bater palmas pro nirvana é tanto mecanismo que tu apronta no amor é só uma partida  outra vez tu e essa mania de querer partir  e se partir toda no meio  toda vez isso, qualquer dia desses eu apareço ai na sua casa pra gente comprar comida do outro lado do bosque 

Amanhã, quem sabe... pode ser meu dia.

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C ortei minha língua bem da raiz, não foi da ponta e nem do meio. Peguei a tesoura na segunda gaveta e cortei. Da raiz. Sangrou tanto, mais tanto... que nessa sala, eu só enxergo vermelho. Tem horas que eu acho que eu morri. Sinto gosto e cheiro de sangue. Estou angustiada, consigo entender tudo. De alguma forma eu ainda sobrevivo. Entalada e de maneira ruim, mas sobrevivo. Antes que infeccione, ou que eu caia dura no chão, não quero que ninguém se impressione comigo. Só quero que sirvam minha língua há duas mulheres que tem algo em comum. Ambas, mães solteiras e de belezas diferentes, e que por algum motivo pessoal, juntas, me passaram uma bela de uma rasteira. Com a minha ajuda, para variar.  Uma delas é a loira, há quem tive coragem de ser eu mesma sem mal conhecer. Achava ela elegante, simpática, e foi com toda classe que ela ardilosamente me expôs, e entregou os fósforos para a morena. Só mesmo eu cortando minha própria língua para que a culpa de ter me aberto para quem
Existe um punhado de verdades Aqueles olhares não eram de mentira Dentro de tudo que ainda não é coragem Minhas pequenas ilusões Nem precisam chorar Há vantagens E o resto dos anos pra acontecer Tem tanta coisa reprimida Não raciocino mais sem tendência Há uma torcida Grita-se Meu nome Há uma reza Teu nome E tudo que não foi dito Por deus! Nem toda cerveja do mundo Seria suficiente pra despistar Será que foi suficiente? Eu não tenho feitiços Nem desenvoltura Envolve todo meu calor Você tava cego Uma hora vai rolar

a verdade engoliu meu nome

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Não sou mais o que eu era. Tudo mudou. Há uma nova fase da qual eu não sei absolutamente nada a meu respeito. Sinto de perto os meus defeitos, e não sei sequer sentir os mesmos enjoos. Roubaram meu tesão foi cedo. Cedinho. Não sei onde ele está, nem se volta. Por aqui tudo dorme. E por ser outra, não sei também qual remédio devo usar,  nem se estou doente, nem se foi de repente, e o pior! Não sei nem mais se sou eterna... E eu era eterna até pouco tempo atrás, tenho certeza. Meu coração é quem sente. Me avisa de tudo, toda hora. Toda hora é hora de angústia e de procura. Quando eu quero adormecer, tudo está aceso e urgentemente querendo acordar. E quando estou acordada, eu me pergunto de que lado eu estou, e se não faço parte de uma grande ilusão. Ilusão da qual me é conveniente e sabe o preço da minha alma. Cada centavo dela. O caminho nunca será me entorpecer... e eu lá sabia se eu tinha preço! Eu me iludi de várias formas, é por isso que eu ainda estou viva... só por isso que eu
Minha barriga é a primeira a me empurrar O desejo passeia pelo precipício Domina minha mente por segundos Me faz voar A realidade me interrompe Estou acordada Estou sonhando Estou viva e iludida Te quero dia após dia Te imagino Venha comigo Há planos mentais por todos os lugares Pelos comodos, Pelas ruas, Pelas falas que eu decoro como se tudo fosse dar certo em algum momento... Torço, Para esquecer, Torço, Para lembrar Eu sou torcida viva de hora em hora Por que teus olhos não saem de cima de mim? Por que meus olhos tem que fingir que não estão vendo? Teu medo senta do teu lado, Tua coragem sempre surpreendida tentando não acreditar no que vê Não se renda Nunca vou pedir isso Não seria bom que tudo começasse pela fraqueza... Espero pois que passe Depressa Ou Devagar Bom é ser torcida viva
Raiz de repente! Não foi uma ideia Chegou... Flor eu já não seria mais Quebra-se meu vidro Não é mais sobre espinhos Não é mais sobre sementes A terra fala de um abraço Sem morte Sem drama De repente mesmo! Quer um abraço e alcançar o céu Me dividir em ramos Me alcançar de todos os lados, Pra cima! Quer me atingir! Agora eu fiquei grande Não é mais sobre espinhos Não é mais sobre sementes Ar... balancei, sem sequer sair do lugar... Quando o vento passar, meus pedaços vão cair... E eu vou continuar, sem morte, sem drama.
Se eu pudesse escolher para que parasse Escolheria agora E agora pararia Agora cessaria Agora seria perfeito Trágico Dramático Seria amor. E se eu pudesse ainda que por um segundo, ser tua... Te devoraria até os ossos, Chuparia toda tua carne, Descobriria teus segredos, E as peles grudariam até ser uma só Não ia sobrar parede, Não haveria mais chão, Teus olhos seriam eternamente meus O sol nasceria com a minha alma de novo Ah, se eu pudesse escolher para que parasse agora... Ah se eu pudesse realmente não me perder no destino que eu traço todas as horas... Não ia sobrar dúvidas Não haveria mais fugas Meu corpo seria festa E a lua brilharia sem fim Agora, tudo se movimenta Tudo me desorienta E se eu pudesse escolher para que parasse agora, agora deixaria de ser eu.
Não adianta não gostar dela ela está em todos os lugares na esquina no bar dentro da sua casa nos quartos... ela está dentro de todos os quartos. Entregue-se Posicione-se Escolha suas armas Não adianta não gostar dela todos lugares estão cheios dela Mexa-se Ela vai te engolir Então mastigue primeiro Vomite, se for preciso Dentro da sua casa nos quartos... dentro de todos os quartos. Entregue-se Uma hora sempre vai
Tem uma vela acesa nos meus dias imagino o fogo o tempo todo nada aconteceu E ao mesmo tempo é tudo tão suficiente teu nome combina com todas as cartas mentais que eu não escrevi Quero teu corpo, tua pele, tua voz e a minha cura. Tudo apertou de repente e se encorajou. Eu devia ter te conhecido primeiro... Quais são as regras agora É tudo tão raro e infinito Desconheço minha própria respiração. Queria respirar assim sempre. Existe uma certeza peculiar de que estou exatamente em tempo e preparada pra isso. O que é intuição, destino... As vezes você simplesmente não pode ser real... Estou incomodada Você podia ao menos não me olhar tanto não me olhe não me olhe tua presença me interrompe Cancela meus planos de esquecer Por que eu preciso tanto de explicação? Quem está confusa não sou eu Tudo apertou de repente e se encorajou. Eu preciso de um plano, do teu jeito.

No pátio da escola

Conheci a Aline no pátio da escola correndo. Eu era uma menina medrosa e insegura. Não corria por medo de cair e ser caçoada pelos colegas. Aline não. Aline corria de uma ponta da escola para outra com muita rapidez, Aline voava. E se caísse e alguém vaiasse, Aline virava uma fera, se defendia, mostrava a língua e o dedo, e aos berros, espantava todos que tentassem rir dela. E era assim que ela fazia também com quem ela amava, era assim que ela também defendia o Luiz Fernando, seu irmão surdo. Apesar de chamar a atenção dele a maioria do tempo. Foi assim que eu descobri que queria ser a melhor amiga da Aline naquela escola. Era daquilo que eu precisava para ser uma menina respeitada no meio daqueles lobos e para ter com quem contar quando alguém me caçoasse. Coragem, segurança e correr mais rápido e sem medo de cair. Foram as coisas que aprendi com Aline sem perceber. E foi com a Aline e seu temperamento forte, que eu também tive minhas primeiras brigas longas. Apesar de serem brigu

Primeiro de julho, depois de mim o amor.

Cheguei primeiro, você é a mulher do padre. Quando eu acordei, o amor estava debaixo da cama, dentro do guarda roupa, atrás da porta, emburrado, chorando dentro do banheiro faz meia hora. O amor cabe dentro do tanque, divide o shampoo comigo e troca nossas toalhas toda vez. O amor está comigo, contando moedas, em frente aquele bar, pra comprar dindin e cremosin. O amor sabe dar o troco certinho e caiu de bicicleta comigo. Ralamos o joelho, esfolamos o cotovelo, mas o amor não cansa de procurar as peças do quebra cabeça que sumiram, comigo. O amor sabe e conhece de todos os personagens que eu falo, dos defeitos e das qualidades dos nossos pais. O amor teve época que conversava a noite toda comigo. O amor me contou algumas mentiras, riu de mim, pulou de um sofá pro outro, e viu no chão os mesmos jacarés e vulcões que eu. O amor está atrás da casa contando até dez, está escondido na dispensa, está discutindo bolacha recheada na fila do supermercado. O amor foi comigo pra escola, desli

O bairro

Tem um lugar atrás do meu bairro que no meu sonho é diferente. Quando eu estou dormindo é diferente. Me obrigam a buscar alguma coisa nesse lugar, e eu nunca sei porque eu vou, mas sempre sei que sentirei medo. Eu obedeço as ordens de alguém que eu não vejo, e quando estou lá acordada, aqui eu estou dormindo. Eu sou eu, há muito tempo atrás. Tem uma igreja enorme que arranha o céu, e de repente eu estou rezando muito mais do que eu rezo, de tanto medo. O diabo é um pretexto quando eu estou acordada. Lá, deus é que é. Mesmo assim, minha esperança é fugir. Fica sempre aquela impressão de que preciso enganar alguém, de que meu tempo está passando. Eu vou conseguir. Meu cheiro é lamentável, minha cabeça coça, minhas pernas estão roxas debaixo de um vestido que pesa. Tenho a impressão de que as minhas partes intimas são da cidade inteira. Eu não sou sagrada. Não sinto fome, não tenho dinheiro, mas de alguma forma eu sei que sou importante, eu estou fugindo. Os homens me apavoram, me traçam

Muita sorte - Parte I

Genivaldo nunca me ouviu direito, o que também não significava que me ouvia errado. Tudo que meu marido ouvia era o que ele queria ouvir. Essa era sua maior qualidade, e eu ficava impressionada em como Genivaldo tinha realmente nascido com esse dom. Quando pessoas como eu, cruzam o caminho de pessoas como o do Genivaldo, ter passado a maior parte da vida meio perdida e seguindo o que as pessoas pedem para que você faça e para que você conclua, começa a parecer uma grande sorte na vida. Pelo menos era isso que minha mãe dizia quando abotoava meu vestido de casamento. Você tem muita sorte minha filha, muita sorte. Uma pessoa decidida como o Genivaldo não é fácil de encontrar. Minha vó arrumava minha grinalda, tentando não transparecer a pena que sentia de mim. Ela bem sabia que eu não estava preparada para um casamento, mas como também considerava Genivaldo o cara , eu era uma menina que poderia ser uma mulher de sorte. Pode ser também que eu já tenha nascida sortuda. Essa piedade me a

cenário perfeito

Voltei pra escrever sobre um deserto atrás dessa porta. Dos buracos que fechei, disfarçado de romantismo e que esteve há alguns dias soprando uma desesperança. Por incrível que pareça, nosso carnaval sem máscaras, trocou nossas crianças. Conversando com ela, sobre você e tudo que você não me disse, fumávamos um cigarro, sentadas num tronco afastado da mesa principal. A gente dava gargalhada sobre a que ponto somos capazes de permitir lacunas dentro do nosso peito e como somos ingênuas e irrecuperáveis. Aquela noite, prometemos que iriamos dar até um beijo de solidariedade. Às vezes me pergunto até quando vou ter essa mania aventureira de beijar na boca das pessoas por amizade. Quando eu ou ela entendermos porque buracos se constroem tão rápido e sem permissão aqui dentro, no centro, e as vezes tão devastadores na caixa torácica, não precisaremos mais ficar por anos tentando compreender se a  culpa é dos causadores ou nossa. A culpa vai ser finalmente apenas uma fumaça. E conversando s

o chão continua periodicamente limpo

Desde os tempos das balas de prata, é sobre fantasmas que eu sei conversar. É sobre eles que eu falo e suspeito. Eu os sinto por perto. É deles inclusive que tenho medo do abandono. É tudo tão ao mesmo tempo que não da tempo de ter uma ideia exata se tenho medo por tê-los por perto ou se tenho medo de sentir falta deles por me sentir sozinha. É confuso, mas de certo modo eu me acostumei a estar acompanhada por eles. Me pergunto as vezes porque eles não são capazes de me dar pistas mais concretas sobre o porão. Continuo cavando esse buraco mais e mais fundo, sendo observada por eles ou não. O que eu sei é que até um tempo atrás, não sabia muito bem porque cavava. Mas cavava com medo e escondida. É sempre essa compaixão inerte que pulsa, minha espinha tem poder de ordenar e fazer ter certeza das coisas que eu faço. Minha moral é muito grande. As vezes eu não consigo conviver tanto com ela, quanto mais eu cavo, mais eu encontro tantos erros que podem ser reaproveitados enterrados. São

Vou menstruar em um miolo de pão

Se você me bater de novo Aurélia, juro que um dia eu vou te chupar até a morte. Seus olhos vão ser virados pra sempre e nesse dia vou esconder teu corpo debaixo da minha cama e faço questão de beijar a tua boca fria antes de te enfiar dentro do meu fogão. Pra ver se você aprende a deixar de ser insensível, meu amor, pra ver se você aprende a se manter quente pra sempre. Você vai feder a casa inteira, vai empestear essa casa igualzinho quando você diz que vai embora, quando você realmente vai embora. Mas dessa vez sou eu Aurélia, sou eu que vou te fazer empestear a casa. E eu vou guardar um pedaço do seu cabelo pra me masturbar as vezes e nunca mais quero ouvir a sua voz, ouviu bem? Nunca mais. Você vai morrer de prazer mulher. Nossa relação acabará fatalmente melhor do que das outras vezes. Eu vou me entregar na polícia, não se preocupe. Ainda mantenho um bom coração. Vou menstruar em um miolo de pão lá na cadeia e passar dias e noites lutando por um cigarrinho qualquer pra saciar a m