Páginas

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Nossa vontade de estarmos sempre encantadas

Imagem do Filme "Da magia a sedução" que assistimos milhares de vezes.


Batemos em todas as campainhas da rua, depois descemos a ladeira na bicicleta, as cestinhas pulavam pra fora na hora da descida e subíamos tudo de novo pra buscar. Outras vezes caíamos feio e esfolávamos cotovelos e joelhos, não podíamos mais ser modelos então plantamos um pé de feijão com algodão que sempre morria,   ai brincávamos de escolinha, enquanto arrumávamos uma sala de aula de mentira, éramos só duas meninas, mas de repente minha mente e a dela entravam em sintonia e naquela pequena área, pais, professores e uns 20 alunos de mentirinha e personalidades diferentes tomavam conta da nossa casa e imaginação. Eles se comunicavam com a gente, passávamos o que sabíamos pra eles, ai quando a gente cansava de dar aulas, uma virava  polícia e a outra ladrão, perseguição na casa toda, a escola acabava antes do sino tocar, uma corria atrás da outra até a outra cair e começar a chorar. Depois do choro queríamos sossego, por que não uma ser uma tal de Glória e eu Maceli? Mães, casadas, profissionais, vida normal, vida de casinha...quando ficava chato brincar de adulto, corríamos pra TV, "tá passando castelo rá-tim-bum, corre!", e antes da escola, um pouco de ação "você é a ranger amarela, eu sou a rosa, tá? I-áááá!" 
Na falta dos garotos, uma hora vai saber porque alguém precisava da representação do homem:  
"-Quem vai ser o homem?
 -Eu não! Nem olha pra mim! 
- Rum, tu tem medo de ser homem?
- Eu não! Só não quero ser o homem.
- Pois então eu sou o homem! Olha minha voz de homem, olha meu andar de homem, olha... você é uma mulherzinha bonitona! 
- Ah não! Não vou mais brincar!"
Quando acabassem todas as alternativas de brincadeira, o jeito era imitar a novela, virávamos órfãs, vítimas do destino, duas Chiquititas, ou que tal Paola e Paulina Bratcho
"- Bora fazer um cigarro, igual o da Paola?
 - Bora ! "
Brincávamos com fogo, caímos da rede (mas triscamos no teto!) no ar, nossos pés eram marrons da rua, queimada  com os vizinhos era guerra, elaboramos uma casinha na árvore que nunca deu certo, juntamos dinheiro pra abrir um clubinho que não entrasse patricinhas, com descaso roubávamos todos os dias nosso próprio cofre pra comprar dindin e cremosin , o clubinho obviamente não deu certo. Monopolizamos o parquinho do Dair José Lourenço, arrebentamos a boca em balanços, enganamos outras crianças que víamos seres mágicos, fizemos castelos de areia que a chuva destruiu, abelhas nos picaram, mentimos, fizemos teatro, natação, brigamos, sentíamos medos diferentes. Nosso lugar preferido era o fundo da piscina e debaixo da água tentar adivinhar, convencemos estranhos que éramos bruxas, até compreender que magia nem com força de vontade existia, o que existia mesmo era nossa vontade de estarmos sempre encantadas... e quanto mais o tempo passava, mais as brincadeiras iam perdendo a graça, e o tédio vinha nos visitar. Na vida é preciso criatividade, pra tristeza e o nada não se apossarem ... mas uma coisa que eu nunca entendia, era como era bom sofrer o ócio junto, compartilhar ou saber que alguém também estava ali comigo,  entendendo os perigos da mente, que alguém sentia do mesmo jeito, que alguém não ia mentir que era diferente, que ali do meu lado alguém sempre teria fases como eu, de carne e osso...e em frente, lado a lado.  

Para quem resolveu nascer 2 meses depois de mim, porque queria compartilhar.



Um comentário:

Marina de Alcântara Alencar, a Nina. disse...

Que liiiiindo, choreeeei! Te amo, sempre juntas, uma atrás da outra, lado a lado. Deus mandou você pra cá e 2 meses depois me mandou atrás pra te proteger! Sou seu eterno anjo e vc minha eterna protegida mana! Te amoo! Obrigada por tudo!