Te mato na saída
Hoje é um daqueles dias que
preciso esvaziar a lixeira pra não empestear a casa inteira. Hoje é um daqueles dias que suas
promessas vem atormentar meu sono e que mesmo rodeada de gente me sinto sozinha como se fosse ficar pra
sempre. Hoje é um daqueles dias que não tenho vergonha de ser mal, de ser terrível, de não desejar bênçãos até sua quinta geração.
Daqueles dias que eu torço para
que sua infelicidade seja dobrada, daqueles que eu não quero lutar, não quero
culpar, não quero ser e estar. Hoje é um daqueles dias que eu penso que talvez
esteja perdida pra sempre, infeliz pra sempre, que tenha morrido e esquecido
apenas de cair. Hoje é um daqueles dias que o seu sorriso me incomoda, que
torço pra que venham me contar que você sofreu um acidente de carro e tenha morrido
de verdade, e não só aqui dentro de mim. Hoje é um daqueles dias que eu acordo
desejando seu mal, alimentando meu ódio que dorme pesado e sonha com suas
sobras proibidas. Hoje é um daqueles
dias que eu não sei até que ponto nos perdoei, até que ponto eu me curei e o
que existe por traz da desconhecida que me tornei. Hoje é um daqueles dias que
eu admito ainda doer, que eu admito não ter chão, não ter teto, não ter visto e
nem amado direito.
Hoje é um daqueles dias em que eu sempre estive coberta de
razão, daqueles dias que eu preciso sangrar pra não me sentir tão dura, e
daqueles que eu deixo minha doce menina em casa e me torno fatal com um batom
nos lábios.
Hoje é um daqueles dias que eu te mato na saída, que eu te esmago
na comida, que eu te exorcizo nas preces. Hoje é um daqueles dias que eu me
vejo mais bonita, mais manchada, mais tocada, mais mulher, mais madura e apetitosa,
mas não ouso me provar, porque hoje é um daqueles dias que eu também posso ser
cruel, que eu dou risada por ter pensado em morte, que eu sou capaz de matar e daqueles dias que eu fico de pé sem o teu
amor e impressionada por não ficar bamba no chão.
Hoje é um daqueles dias que eu acordo pra odiar, que eu durmo querendo enforcar, queimar, bater, sujar, rasgar, tomar,
judiar, discordar, criar e amar...hoje é mais um daqueles dias que tudo que
mais preciso é amar outra vez, pra me recuperar dessa bagunça, pra fazer
download do que ainda pode me assombrar e assustar, pra ser pura de novo.
Hoje é um daqueles dias que Deus
me perdoa sem me julgar, que minha própria sombra não tem coragem de me
acompanhar, daqueles dias que o inferno manda lembrança, que a música é choro
de criança, que a dança é feita de passos de “quase” de giros de “e se”, e de pliês
que escorregam na frente da platéia inteira!
Por fim...hoje é dia de vaia, de
fracasso, mas não vamos exagerar, hoje não passa de um dia triste que preciso simplesmente praguejar contra a sua vida pra me
sentir melhor, vai passar.
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