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quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Abaixo de casa

Sonhei com aquele lugar novamente e me pergunto porque sei que fica exatamente atrás da minha casa, mas se trata de uma outra realidade, outro tempo, outras pessoas, outros temores. Minha mente é uma caixa de segredos que eu tento decifrar. Mas quando estou lá quero sair urgentemente e nunca descubro do que exatamente eu estou fugindo. É místico... sempre tem algo que lembre religião, temas polêmicos, morte, vida e perseguições... Tem a tal da igreja arranha céu, tem a casa da velha estranha que faz abortos, feitiços com a porta cheia de caveiras e as cercas de trepadeiras, o mal cheiro... e agora tem também a tal da praça com estátuas coloridas e muitos fiéis. As ruas sempre desertas e misteriosas, e eu andando com medo de encontrar alguém, com medo de não continuar deserta até minha saída. Sempre preciso de ajuda pra sair, nunca sei como consegui entrar. Algumas vezes personagens que eu já conheço estão lá, e sei que ocupam o corpo de alguém que não conheço, mas me conhece. Ocupa a forma que eu conheceria. Um dia, eu queria enfrentar... ficar por lá, amanhecer. Tenho sempre a impressão de que vou embora antes que escureça... Tenho sempre a impressão que se um dia fico por lá, algo vai me devorar. Mas e se não fico? Sempre estarei indo pra lá? Quem vai chegar? Não posso me esquecer também do hospital... inclusive já sai de lá por uma das portas dele, dava direto pra rua da minha casa verdadeira. Nesse dia andei disfarçada, noite passada não. Encontrei um menino esperto essa semana que comandava meninos menores do que ele. Era uma espécie de gangue, grupo... Mas como sempre consegui negociar minha saída. É sempre assim quando encontro alguém nas estradas de lá. Eu peço ajuda pra sair, eles desconfiados me ajudam mesmo percebendo que estou com medo e que posso não voltar. Nunca sei exatamente o que ofereço em troca que eles resolvem me ajudar. Dessa vez eu pedi pra ele me deixar na praça do meu setor, fiquei com medo de falar meu endereço verdadeiro. Como se assim eles pudessem me pegar. Ele concordou e no final realmente me deixou por lá. É engraçado como eu sempre tenho um plano. Um plano que mesmo com medo dá certo. Da outra vez encontrei um homem e fingi passar mal pra que ele me levasse para o tal do hospital que por alguma razão eu sabia que tinha uma porta que me levaria para minha casa verdadeira. Não sei que lugar é esse mas ele existe no meu sonho. E eu volto pra lá quando menos espero. E eu acordo de lá me dizendo "de novo? De novo passei por lá...".   

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