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quarta-feira, 30 de novembro de 2016

às vezes decido ser armadilha

Tem um homem me observando por todos os lugares. Onisciente. Todos os lugares. Um homem na minha cabeça. Um homem no que eu deixei de dizer. Atrás das árvores, dentro do carro, das casas, sentado nos bares. Há um homem no céu me olhando, no trono me ordenando, na lua descobrindo o que eu não poderei ver. Existe um homem dentro do tanque, enquanto lavo minhas calcinhas. Um homem que respira dentro da água, que cabe num espaço minúsculo. Homens por todas as partes. Eu ando, ando, sem correr. Eles acendem as luzes para mim. Piscam o pisca alerta de acordo com os meus passos. Querem alguma coisa. Eu não sei o que eu quero. Amar é muito forte e o mundo dos fracos. às vezes decido ser armadilha, outras vezes subo lá em cima do muro e os espero com uma vara de pescar. Quando você esquece, quando você é apenas ser humano, alma perturbada, lá vem elas com seus cafés, fazendo questão de te lembrar que há um homem nos seus sonhos, dentro do seu quarto, observando se seus sapatos ainda estão sujos ou limpos. Cruzo as pernas, pego um vento...cuidado com eles! Há um homem me esperando também no futuro. Algumas coisas não são permitidas. Não são aceitáveis. Há um homem que chora no passado, há um homem que não é capaz de derramar uma lágrima. Há mais de nãos sei quantos homens mortos e mil homens vivos dentro da minha barriga. Velhos, meninos. O tempo todo esses meninos. Exames não vão dizer. Alma não fala. Espíritos são invisíveis. Não estou acorrentada. às vezes, só as vezes, todos eles nunca estão ali, estão por toda parte daquele jeito, mas nunca estão ali. Eles morrem de medo, ou sou eu. Pode ser mesmo que seja eu. Mas não sei mais falar, nem sentir. Não sou nem sequer obediente. E ainda me diziam que eu haveria de dizer sim, que eu haveria de dizer não, que eu haveria de dizer te amo. Homens por toda parte. Homens que sabem de tudo, homens que não entendem é de nada. 


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