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Mostrando postagens de novembro, 2017

MILENA

Quando eu li a voz do monstro no site, não vi mais a vítima, não vi mais a mulher, não senti mais as facadas no meu rosto, não me vi no espelho sem dentes, não imaginei como é não poder escolher mais as cores do batom. Quando vi a voz do monstro no jornal, não vi mais a propriedade, não vi mais a minha irmã, não vi mais a minha amiga, não vi mais a próxima beijoqueira que gosta de sair a noite, de se divertir, iludida na liberdade de ser, poder, ir e vir... Quando vi a voz do monstro na notícia, eu até gostava muito dela, eu até chorei, eu até fechava os olhos e pensava nela, mas desculpas, perdão, deus, e iluminação para a família...porque agora é a vez do monstro. Coitado do monstro.
A sensação é de que logo agora que eu entendi como as coisas realmente funcionam, eu não tenho mais a confusão daqueles dias. Eu queria estar dançando com todos eles. Mas naquela época em que eu dançava eu não entendia como as coisas funcionavam, eu vivia confusa demais. Eu perdi. Eu já sei e perdi. E no momento que encontrei as respostas em meio a tudo tão chato e horrível, eu agora me prefiro daquele jeito, confusa, quebrada, ingênua... Qual o sentido de ter as respostas?! Para onde foi todo mundo que sorria? Somos tão conformados agora... Onde estamos? Por que nos encontramos? Por que não dividimos mais a cerveja e estamos sempre tão sozinhos em nossas próprias casas? Por que deixamos de ser espertalhões? Eu podia ser um máximo a tão pouco tempo... eu não sou. O que eu nunca imaginei temer, se tornou realidade... Fiquei quadrada como os idiotas. Branco e preto que quando me misturo, só consigo ser cinza, cinza e quadrada como todos os idiotas que agora preciso conviver. Não tem cor...