Louca por tomate

Desde o dia que se achou uma bobagem em carne e osso, parou de escrever. Achou quem sabe que as minúncias vindas da respiração, provindas da inspiração, só saiam pelas canetas gerando filhinhos e filhinhas abobados. Numa sucessão de escritos tolos, numa sucessão de mentiras picaretas, numa sucessão de verdades vagas, numa sucessão de indecisões tapadas, parou de escrever. E do dinheiro que guardava, nunca mais se tentou em entrar numa papelaria, se segurou para não comprar o primeiro caderno bonito, em branco, livre, e pronto para ser preenchido, com suas bobagens imbecis e esquizôfrenicas. Como o tomate deixa de ser inteiro num vinagrete, a cabeça pois-se a crescer, crescer e crescer, de tanta bobagem. As mãos orientadas pela certeza da cabeça, de que era tudo pura bobagem, não conseguiu seduzir nenhuma caneta preta, nenhuma caneta azul, nenhuma caneta vermelha. E sem as mãos com uma caneta, não cortava aquelas bobagens em picadinho, como o vinagrete é e o tomate inteiro não. E a...