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sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Um por um

Eu devia ter feito um escândalo, chegado mais perto, gritado bem alto, olhado nos olhos, ter passado um medo, dizer que era agora, que continua sendo verdade, que não era coisa da minha cabeça, que eu sonho, suspiro, respiro, torço e imagino. Devia, sei lá, ter feito um barraco, caído no chão, ficado em silêncio, empurrado o corpo, puxado os pêlos, dizer que nunca mais, que até poderia não ser tudo verdade, mas que alguma coisa de diferente acontecia. Poderia ter dito quem sabe , que nem tudo era coisa da minha cabeça mesmo, porém admitido, afinal eu não minto, e ter reclamado... reclamado bem mais! Perguntado, por que não? Passado na frente, passado do lado, saído por de trás do balcão, do sofá, de um lugar escuro. Ter feito parte de um presente ainda que fosse pra não ser futuro. Eu podia não ter me escondido, nem ter fingido, e ter cumprimentado um por um, não me esquivando do você. O que é que eu fiz afinal? Abracei o medo, me entreguei para o medo e deitei vazia mais uma vez. Não é sobre ser completa, em nenhum momento. Tantas horas ainda tive no dia seguinte, e ainda assim amarrada à todas as correntes que não deviam me pertencer. Tantas horas tive de uma noite inteirinha,  antes de ir embora, e ainda assim obcecada por todas as ausências. O que é que não me seduz o suficiente? O que é que me angustia inteiramente? O que é que me da coragem e vai me quebrando devagar e pausadamente? O que é que me faz chegar sorrindo, mas nunca me faz ir embora inteiramente do tormento? Tá cravado na minha alma ou foi por um momento? O que se reproduz aqui dentro que fico contando os dias, criando um tempo, sorrindo das memórias, acendendo velas, decorando um nome, a voz, e procurando uma pista em tudo que era dito, e mais ou menos não dito. Não aconteceu nada, olha só. Que tragédia nata. Quanta ilusão....encharco. Meu gozo reprimido. Masturbação impulsiva, libertina,
criativa...  Mil vezes,  minha alma cheia de teimosia. Os raios poderiam me partir, sinto que já se foi o prazo em que se poderia falar sobre. Se passa...sobra-se uma louca. Racional. Me atingir! Quem sabe não era assim que sairia rápido, como um eletrochoque, tudo... absolutamente tudo que eu construí na velocidade da luz, só pra mim. 

Um comentário:

Helena Rodrigues disse...

A falta de atitude tem o poder de assombrar a nossa vida.
Mas, às vezes, há tempo para que possamos nos redimir. ;)

Beijão!
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