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sábado, 30 de junho de 2018

O salto

Se eu não tivesse me jogado no lago aquele dia, talvez as coisas teriam melhorado.
Quem sabe eu não teria conversado com as pessoas certas, encontrado alguém por acaso que me faria querer continuar ou mesma a ideia genial teria aparecido.
Enquanto humanos, enquanto seres, enquanto sonhos... aquele eterno encontrar.
Ah, como sinto falta daquela esperança daquela ideia que muda para sempre o rumo de nossas vidas... estou viva, mas não há mais esperança.
Quem é que sabe se ela não teria aparecido as dezoito ou duas horas depois de eu ter me jogado descalça, sem choro, aviso e nem reza?
Quem sabe se essa ideia iria aparecer pela manhã e desmanchar tudo para que eu recomeçasse?
Mas nem todo mundo consegue esperar, ele me diz quando aparece.
Ele fica sumido a maioria do tempo.
E quando estou muito perdida, as vezes se suplico ele aparece.
Eu faço realmente parte desse grupo, eu lhe digo rebelde. Do grupo dos que desistem, do grupo dos que não encontraram soluções, dos que não vão voltar. Existe algum momento da vida em que o ser humano pode não pertencer a grupo nenhum? Me pergunto sempre que estou no ar me jogando pela décima quinta vez.
Sinto-me tola...em vida, estava o todo tempo me prendendo a algum lugar do passado, sofrendo pelo futuro e nesses dois lugares sempre, não havia paz no presente.
De certa maneira, faz muito sentido que todas as minhas escolhas tenham me orientado até aqui. Exatamente onde eu estou. Voando no ar constantemente com os órgãos se despregando e chacoalhando dentro de mim. Com os ossos se desmontado... O mais cabuloso é que continuo pensando, continuo com fome de alguma coisa que não sei explicar.
Pensei que a água entraria pelos meus ouvidos, e eu seria capaz de escutar a paz. Pensei que ao entrar pelos meus olhos, eu veria luz, e anjos ou demônios apareceriam para me buscar e me mostrar um caminho. Eu pensei realmente que a água entraria pela minha boca e eu seria beijada, devorada, estuprada por todos os orifícios e nunca mais me preocupar com porra nenhuma.
Mas nada disso aconteceu... não foi isso que aconteceu...  as águas me traíram.
Espero, desde já, pacientemente, pelo momento que eu não seja eterna.
Que eu não seja o lago.
Que eu não seja as coisas piorando.
Que eu não seja o acaso, nem conversa, nem vida.
Estou esperando pacientemente pelo momento que eu não seja mais vida.
O inferno não tem cor, não tem segredo, não tem mistério.
É pior do que eu podia imaginar.
Ainda me lembro do meu salto, de que estava a tarde, que o sol esquentava e mesmo assim a brisa era fria. Ainda me lembro que roupa que escolhi pra partir, mas não é ela que eu visto agora, estou vestida, mas a sensação é a mesma dos sonhos que tinha quando dormia... estou constantemente nua na frente de todos... quando me joguei no lago pela última vez, virei uma poça de angústias viva.  

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