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sexta-feira, 14 de abril de 2017

o plano


Ontem que ela foi entender porque chorou no dia seguinte. Depois, só depois de ter que pedir pra ir embora pra casa, foi que ela percebeu que não foi tudo tão natural assim. Não foi tão romântico, não foi tão honesto da sua parte. Só ontem, de repente, depois de vários anos e conhecimentos que obteve com experiências que nunca tinha tido, foi que ela pode entender porque tinha motivos de ter ficado triste aquela época. Era sua passagem, sua travessia, seu capítulo e história. E não há quem responda se foi o mundo que a confundiu toda ou se foram as histórias das outras pessoas que interferiram em várias virgulas e pontos. Havia algo estranho pra ser engolido. Algo estranho na juventude, no amadurecimento das coisas, algo profano e algo altamente sagrado que lutavam pra saber quem era mais forte, mais duro, pra ficar cravado, pra gritar na rua, para abrir as portas do coração. Todas as vezes que essa parte precisa ser contada, algo incomoda... Por que não se sabe dizer que doeu?
Doeu físico e mentalmente. Não era auto sabotagem. Parece ter sido tudo tão bem planejado por ela mesma, parecia ter sido uma iniciativa própria, algo que ela havia decidido ali mesmo, um impulso, uma atitude espontânea, mas não era apenas isso. Não era ela. Havia um interesse particular de se livrar daquilo. Um interesse que ultrapassava o outro e a si mesma. Uma visão distorcida do que ela carregava. Uma espécie de obrigação, um ritual que parecia estar passando da hora de acontecer. Queimou. Doeu. Ainda que tivesse sentindo alegria em ter rompido, ainda que tivesse sentido alívio. Ainda que não soubesse o que sentia. Era ela e não era. Era ela precisando se livrar dela mesma. Era ela estranhamente deixando que entrassem. Queimava. Não houve muitas explicações. Havia confusão sim. Só por dentro, uma programação que parecia ser sua. 

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