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sexta-feira, 1 de julho de 2016

Primeiro de julho, depois de mim o amor.

Cheguei primeiro, você é a mulher do padre. Quando eu acordei, o amor estava debaixo da cama, dentro do guarda roupa, atrás da porta, emburrado, chorando dentro do banheiro faz meia hora. O amor cabe dentro do tanque, divide o shampoo comigo e troca nossas toalhas toda vez. O amor está comigo, contando moedas, em frente aquele bar, pra comprar dindin e cremosin. O amor sabe dar o troco certinho e caiu de bicicleta comigo. Ralamos o joelho, esfolamos o cotovelo, mas o amor não cansa de procurar as peças do quebra cabeça que sumiram, comigo. O amor sabe e conhece de todos os personagens que eu falo, dos defeitos e das qualidades dos nossos pais. O amor teve época que conversava a noite toda comigo. O amor me contou algumas mentiras, riu de mim, pulou de um sofá pro outro, e viu no chão os mesmos jacarés e vulcões que eu.
O amor está atrás da casa contando até dez, está escondido na dispensa, está discutindo bolacha recheada na fila do supermercado. O amor foi comigo pra escola, desligou a luz do quarto, gritou meu nome e está fazendo dinheiro de papel, e bolo e pastel de areia pra eu comer. O amor me deu um murro. Ás vezes, o amor é mais forte do que eu. O amor me fez chorar, se vingou de mim e contou tudo pra mamãe. O amor não quer mais brincar, me disse que não era assim, me defendeu na frente das pessoas, foi pra casa comigo a pé.
O amor entendeu as histórias como eu, cantou as músicas no mesmo ritmo, e é ainda mais forte quando levanta a mesma bandeira que eu.
O amor acreditou que era possível voar, flutuar, ser mágica, e caiu da rede comigo. O amor não lavou a louça, contou as estrelas comigo com medo das verrugas nascerem.
O amor me explicou melhor as coisas e me deixou com menos medo. O amor trancou a casa, correu do bicho comigo, e me jurou vários segredos.
Eu vi o amor aumentando, deixando de ser caçula, depois deixando de ser do meio. Não é 'val',  não é val... como eu disse, eu cheguei primeiro, e agora nem a mulher do padre o amor era mais. O amor era quatro e disputou atenção, ele cresceu, distanciou, ficou igual antes e beijou primeiro do que eu. O amor me viu cantar, chorar, despencar e rezou comigo. O amor me viu sonhar e querer, colocou bota e chapéu, me levou para os bares, deu comida para as tartarugas e encheu o copo comigo.
O amor às vezes só queria dormir pra sempre. Quando eu acordei, o amor estava em todos os detalhes, em todas as cenas, na sombra da infância, nas dúvidas da adolescência, e nas oportunidades de ser mais adulta. Quando eu acordei o amor estava em todos os lugares e era um MAR imenso, muito grande mesmo, que deveria caber em um nome, que deveria ter um apelido.
Eu cheguei primeiro, depois de mim, o amor: Nina 




  

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