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quinta-feira, 7 de julho de 2016

No pátio da escola

Conheci a Aline no pátio da escola correndo. Eu era uma menina medrosa e insegura. Não corria por medo de cair e ser caçoada pelos colegas. Aline não. Aline corria de uma ponta da escola para outra com muita rapidez, Aline voava. E se caísse e alguém vaiasse, Aline virava uma fera, se defendia, mostrava a língua e o dedo, e aos berros, espantava todos que tentassem rir dela. E era assim que ela fazia também com quem ela amava, era assim que ela também defendia o Luiz Fernando, seu irmão surdo. Apesar de chamar a atenção dele a maioria do tempo.
Foi assim que eu descobri que queria ser a melhor amiga da Aline naquela escola. Era daquilo que eu precisava para ser uma menina respeitada no meio daqueles lobos e para ter com quem contar quando alguém me caçoasse. Coragem, segurança e correr mais rápido e sem medo de cair. Foram as coisas que aprendi com Aline sem perceber. E foi com a Aline e seu temperamento forte, que eu também tive minhas primeiras brigas longas. Apesar de serem briguinhas de criança e depois de adolescentes se descobrindo, foi perto dela que eu percebi também que algumas coisas não valem a pena se deixar magoar tanto, porque o perdão é o melhor amigo de qualquer amizade duradoura e bem humorada. 
Houve um tempo inclusive, que o bom humor era a sombra da minha amizade com Aline, ficávamos duas horas no telefone tagarelando sobre tudo. Nós ríamos de tudo que era besteira, gostávamos de imitar as pessoas, de arrebentar nas peças teatrais da escola, de ter crises de risos sem limites e com o tempo... Percebi. Nós estávamos mudando, nossas personalidades foram ficando mais distintas uma da outra, e com isso também vieram novas crises, aprender a lidar com as diferenças. Mesmo assim, ainda corremos na chuva, fizemos gols no jogo de handball e rimos de nós mesmas. Aprendi com a Aline que era permitido preservar nossas crianças interiores pra sempre em algum pedacinho da nossa história, por mais que a vida adulta bata na nossa porta. Por que ser, ou fazer escolhas, diferentes, não me tornava menos sua amiga e vice versa. Nós finalmente e graças a deus, não estávamos mais na sexta série. Agora nós finalmente podíamos odiar matemática pra sempre, sem precisar de pontos. Agora eu podia ser escritora e jornalista. Mas foi aí que eu parei pra pensar: e a Aline?! E então a tristeza pairou. Aline não viria comigo pela primeira vez na vida. Não haveria primeiro dia de aula, nem trabalho de dupla. Eu ia pra faculdade e Aline continuaria no cursinho. Aline queria outra coisa, aline não desistia, aline corria de novo, dessa vez com os livros, sem medo de cair, até que ela passou. 
Doutora, médica e CDF. Era isso que a Aline queria ser agora. E conseguiu. Parabéns minha amiga. Nossa amizade sobreviveu firme e forte com as diferenças, e a tecnologia nos tornou próximas novamente. Com muitas novidades e histórias novas pra contar. E hoje, eu aprendi mais uma vez com você. Que a distância é apenas um detalhe pra quem realmente se gosta. Tudo que eu posso desejar depois de quase 11 anos de amizade, é que aja sucesso, e que continue correndo sem medo de cair. Ousada. Determinada e Corajosa. Características que hoje, também entendi que não são só suas, mas também as características que mantiveram nossa linda amizade e que nunca vão sair de moda, nem cair em qualquer pátio de escola. Por tudo isso amo e desejo sucesso a você.

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