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terça-feira, 27 de outubro de 2015

nas vias de minhas aortas.

A carne desprendida da alma penada dos meus portões. As fadas esvoaçantes pelas canções de ninar, onde exatamente que fui parar? Aquele vestido nunca esteve de fato predestinado, quanto minhas fugas, sobre minhas fugas. E quando esse sono vir, milhares de fugas se reprogramam. Quanto tempo preciso para ser devolvida? A lembrança criança e adulta ao mesmo tempo. Uma hora pura, enxuta, séria, depois malícia, seca. A lembrança se tornou mais responsável do que eu, e do que se pode imaginar. Esses pés severos pisam em tantas florestas que fica difícil compreender até que ponto mantem-se a posse sem pose, sem relógio... o monopólio não está mais nas vias de minhas aortas, não está...estava sangrando e agora alada por anos. Alada sem cessar e preocupar com ruas escuras e abraços inseticidas. Onde mais pode se camuflar? Cansada, porque minha alma veio azul, mas até feliz. É tão difícil manter a ordem, minha força cresce como coceira na pele, sou uma transformação ambulante. E se de repente ainda não sou eu? Estico meus braços e não alcanço os céus nem nas pretensões. As vezes desconfio que eu choro, mas ninguém pode ver. Eu não sou inteira, eu sou um monte de pedaços. Me solta.  As gavetas todas vazias para o meu desespero. A lembrança realmente criança e adulta pela última vez. Com aquele abraço eu vejo um belo par de olhos. Você não dorme? Arrancas minha carne. Eu não sou inteira, eu sou um monte de pedaços.Me come, me come, me come. Remenda minha carne sem alma. Me enterra tão longe. Onde exatamente eu fui parar? Não dá mais pra fugir? Me solta. Estou sem vestido, mas com milhares de fugas que não deram certo. O medo aumenta de acordo com as batidas do meu peito. Eu ando no escuro. Eu ando na umidade. Onde tem bicho, eu sou comida e temida. Não tem janela nessa casa. Escuto os pés severos pisarem na floresta, galhos quebrando como minha esperança de continuar viva. Eu voou mas é uma liberdade estranha, uma liberdade que não solta com o vento. As vezes meu ambiente parece ser de papel, a qualquer momento rasgado, amassado, destruído. Onde exatamente que eu fui parar? Odeio canções de ninar. Ainda consigo fugir? Que horas são? Na floresta escurece? Preciso passar. Alada por anos, sem reclamar. Alguém fez isso comigo? Sem alma, sem alma. Estou azul em alguns momentos, e eles vão se arrepender. Um dia farei fogueira, e tudo isso aqui vai queimar.


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