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segunda-feira, 9 de março de 2015

Recriada, dona triste

Não há nada de errado com as flores, não há nada de errado com o amor que querem me dar, não há nada de errado com os favores, não há nada de errado com o dinheiro que me dás, não há nada de errado com as cores que eu tenho que usar, não há nada de errado com os meus brinquedos, com os sonhos sempre a procura de alguém, rodeado de corações, fora disso não há salvação... maluca de mim, maluca de mim... o que estás a pensar? Pobre, eu. Apenas pobre eu querendo buscar nem sei o quê, pra onde eu ia quando queria desenhar, ser própria paixão, renascida, recriada, dona, triste...mas do que sinceramente, sempre tão triste de verdade...
Ao ver os três mendigos, na velocidade que a cidade me leva, de repente está tudo errado comigo... que rua enorme pra se habitar um castelo, que ambiente tão vivo, no romantismo do meu coração classe média, da poesia do meu estômago cheio, da alegria da conta de sapatos que pago pra que apertem meus pés, isso! Dilaceram meus calcanhares até ficar carne viva, mudem meu jeito de voar, arranquem minha vontade de correr, façam-me parar, mudar de caminho...
Ora se a rua não é a própria casa deles, que casa tenho eu? Ora se a rua não são seus diários vivos, que fim leva meus cadernos? Ora se seus medos não caminham bem do ladinho deles... e eu que enfeito minhas coragens mais tristes com adesivos que perdem a cola tão rápido quanto aquelas manhãs de sol em que caminhávamos juntos...
Seus pensamentos mais soltos tendo que se prender nas calçadas pra continuar vivo, floras murchas, coça, despedaçadas, ainda flores? Sim, ainda mijo água como todos.
Eu ainda só posso amar? E se ela está certa, e só viemos pra cá por conta disso... três mendigos sorrindo, debaixo de cobertores, um deles lê um livro concentrado, mesmo que com tanto barulho que a nossa cidade faça, o outro conta uma história engraçada, ele sorri, mexe um dos braços, mesmo que apoiando todo o corpo de lado com o outro que segura a cabeça falante, ele se expressa, ele lembra, existe uma importância sinistra vinda dos seus pulmões, e o outro escuta encolhido, mas escuta! Tem sono, preocupado com o frio talvez... eu passo, mais rápido do que toda a minha curiosidade em estar lá, e entender porque um lê, o outro dita e sorri, enquanto o outro ouve encolhido.
Eu passo, mas fica pra sempre a curiosidade de saber se o título do livro é dos bons, se o contador de histórias do lado é bem melhor, se o corbertor aquece mesmo ou só ajuda a não lembrar que não há nada de errado com as flores, não há nada de errado com o amor que querem me dar, não há nada de errado com os favores, não há nada de errado com o dinheiro que me dás, não há nada de errado com as cores... ou no que eu realmente uso pra brincar. Será meu sonho o dormido ou desses que faz levantar? A necessidade de ser salva nos é sempre maior que a de salvar, maluca... maluca de mim que transformo na velocidade da cidade, um minuto de mendigo e ruas perigosas em castelo florido do meu buscar.

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